sábado, 1 de julho de 2017

Operação Calabar atinge o Batalhão mais corrupto do Brasil (7º BPM - T


RIO - Uma operação da Divisão de Homicídios cumpre na manhã desta quinta-feira 96 mandados de prisão contra policiais militares acusados de receber propina do tráfico de drogas em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio. Segundo a Polícia Civil, essa é a maior operação de combate à corrupção policial já feita no Estado do Rio. A operação aconteceu após delação premiada de um homem preso em fevereiro de 2016.
A Justiça também ordenou a prisão de traficantes. Segundo a Polícia Civil, até as 12h45m,
54 mandados de prisão contra PMs e 22 contra traficantes haviam sido cumpridos. A ação foi batizada de Calabar — em alusão a Domingos Fernandes Calabar, considerado o maior traidor da História brasileira. A ação tem a colaboração do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público estadual.


As equipes estão em bairros de Niterói, na Região Metropolitana, e também da Zona Oeste do Rio. No Ingá, em Niterói, agentes estiveram no prédio do cabo Fernando Cataldo Côrtez, um dos suspeitos de integrar o esquema. Segundo a Polícia Civil, já há PMs presos.
Em São Gonçalo, a movimentação no 7º BPM (São Gonçalo) era intensa na manhã desta quinta-feira. A todo instante chegava um carros de várias unidades da Polícia Civil e também veículos da Polícia Militar, muitas delas em precário estado de conservação. Dois veículos da polícia militar deixaram o batalhão com PMs presos.
A movimentação atraiu atenção de moradores próximos da unidade da PM. Eram pessoas que se mostravam indignadas com as notícias sobre o envolvimento de policiais com traficantes.
— Isso é uma vergonha. Vender armas para bandidos é uma safadeza. Receber dinheiro do tráfico é uma nojeira. Mas devemos parabenizar os PMs honestos. Adoro a polícia militar. Mas enquanto Facebook vendo corrupto não for mandado embora não vai ter jeito. Os deputados estaduais e vereadores de São Gonçalo também são culpados — afirmou o aposentado Rosemberg do Santos Perez, de 59 anos.
A mesma indignação foi compartilhada pelo também aposentado Valmir trindade, de 70 anos:
— Em poucas palavras, esse é o nosso Brasil. E nós que somos brasileiros temos que aturar isso aí. Colocam corruptos para tomar conta da gente. Não dá. Também somos culpados por eleger pessoas desonestas. Mas somos enganados. Eles se mostram bonzinhos, mas fazem tudo de errado às escondidas.
A todo instante passavam motociclistas e motoristas gritando em frente ao Batalhão. Eles chamava os PMs de ladrões e bandidos de farda, além de outros xingamentos.


GRUPO MOVIMENTAVA CERCA DE R$ 1 MILHÃO POR MÊS
O esquema movimentava cerca de R$ 1 milhão por mês. Todos os agentes alvos da operação são praças e foram lotados no 7º BPM (São Gonçalo) entre 2014 e 2016. A quantidade de policiais acusados de corrupção representa cerca de 15% do efetivo da unidade, composta por pouco mais de 700 homens. De acordo com a investigação, semanalmente os agentes recebiam cerca de R$ 250 mil de propina do tráfico.
Na ocasião da prisão do delator, por agentes da Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo (DHNSG), ele foi flagrado com três armas de fogo e dinheiro em espécie. Ele era apontado como uma espécie de "gerente da propina" do tráfico do município, responsável por centralizar o transporte do dinheiro e o pagamento a diferentes grupos de policiais. A partir de então, ele aceitou fazer delação premiada, colaborando com os agentes em troca de uma diminuição de sua pena.
Numa série de depoimentos prestados na especializada, ele esmiuçou como era o esquema de distribuição de propina do tráfico entre os PMs do 7º BPM (São Gonçalo), apontou os nomes de 96 agentes que recebiam valores semanalmente e entregou uma lista de números de telefones utilizados por policiais e por traficantes responsáveis pelos pagamentos.
Segundo o relato do colaborador, o tráfico distribuía cerca de R$ 250 mil semanalmente entre PMs que trabalhavam nos Grupos de Ação Tática (GATs), na P-2 (Serviço Reservado) do batalhão, em Destacamentos de Policiamento Ostensivo (DPOs) nos bairros do Salgueiro, de Santa Luzia, de Santa Izabel, do Jockey, do Jardim Catarina, e as ocupações dos morros da Coruja e do Alto dos Mineiros. A entrega do dinheiro era feita, geralmente, nas noites de sábado. Em troca do pagamento, os policiais deveriam evitar operações em 44 favelas de São Gonçalo dominadas pela maior facção do Rio no município. A divisão era feita de acordo com a lotação dos policiais e com o perigo que esses agentes representavam para a facção. Por exemplo: cada GAT — grupos de agentes responsáveis por incursões em favelas — recebia R$ 20 mil por semana; já PMs baseados em cada um dos DPOs recebiam R$ 7,5 mil.   dinheiro da propina era entregue para Daniel Soares e Renato Amarelo. Eles repassavam as quantias para os policiais militares.
Segundo a delação do colaborador, o chamado "arrego" era pago por traficantes do Complexo do Anaia, Jardim Miriambi, Caixa d´água, Tronco, Dita, Complexo da Alma, Favela 590, Candoza, Buraco Quente, Três Campos, Favela do Pica- Pau, Baixadinha, Boca da 39 (Bairro Jardim catarina), Carobinha, Mangueirinha, Novo México, Risca Faca, entre outras da região de Niterói e São Gonçalo.

QUEBRA DE SIGILO TELEFÔNICO
Com base nos relatos do colaborador, a Justiça decretou a quebra de sigilo telefônico dos policiais. A partir do monitoramento das linhas, os agentes descobriram que os agentes e os traficantes usavam celulares "buchas" — aparelhos utilizados somente para atividades ilícitas, para dificultar o rastreamento. Todas as ligações telefônicas foram periciadas para verificar se o padrão de voz de pessoas que utilizaram celulares “buchas” coincidia com o dos policiais militares.
Ao longo das investigações, os agentes descobriram que, mesmo após a prisão do colaborador, os valores continuaram a ser pagos. O posto de "gerente da propina" passou a ser ocupado por Daniel Soares, que foi preso ao longo do monitoramento, em abril de 2016 com R$ 9,5 mil num carro. Daniel não aceitou colaborar com as investigações.
Outra prisão em flagrante realizada pelos agentes da DHNSG durante as investigações foi a do cabo Marcelo Bento Vindile. Ele foi flagrado à paisana num carro, em abril de 2016, com outros três homens, R$ 2,2 mil reais em espécie, duas armas e pinos de cocaína.
Os PMs acusados vão responder por organização criminosa e corrupção passiva.



Veja a lista de PMs que são alvo da operação:

Adriano Cavalcanti da Costa, CB Adriano
Aguinaldo Cardoso dos Santos
Allan Mac Cormick Rosas
Alessandro Costa de Assis, SGT Assis
Alessandro da Silva Souza, SD Alessandro
Alexa Dias Cordeiro
Alexandre José Figueiredo Pimentel Júnior, SD A. Pimentel
Alex Sandro Ernesto Barros
Anderson do Nascimento da Silva
Anderson Teixeira Pereira
André Chagas da Silva
Andre da Silva Aleixo, SGT Aleixo
André Luiz de Oliveira Sodré, SGT Sobrancelhudo
André Tavares Casaca de Souza
André Willians Sarmento da Silva, Wilian Bichão
Antonio Cláudio Quintanilha Medeiros, SD Quintanilha
Antonio da Silva Mendes Júnio, Júnio Preá
Carlos Alberto Pereira da Silva Júnior, SD Silva Júnio
Carlos Eduardo Caetano de Oliveira Pinto, SGT Caetano
Carlos Eduardo Correa de Sá, SGT Correa
Carlos Eduardo Medina da Silva, SGT Medina
Carlos Henrique da Silva Oliveira, Subtenente Oliveira ou Charuto
Carlos Orlando Franco Matos
Carlos Magno Vilaça de Carvalho, SGT Vilaça
Carlos Roberto Soares Nunes Júnior, SD Nunes
Carlos Vinícius Amaro de Freitas, CB Vinícius
Cauê Soares de Souza, SD Cauê
Charles Terechow, SGT Charles
Claudio Filipe Dias Guedes, SD Guedes
Cristian Barbosa, Sub Cristian
Cristiano Lopes Cardoso dos Santos
Dilmar Correa de Souza Júnior, SGT Júnior
Dominique Alves de Oliveira, SD Dominique
Douglas Vianna Costa, SD Vianna
Edinei de Oliveira Braga, SGT Braga
Eduardo Augusto Fernando de Souza, SGT Souza ou Souzinha
Fabiano Moraes de Souza, M. Souza
Fabiano Rosa Lima, SGT Lima
Fabiano Santos de Souza
Fábio de Matos Silveira, SGT Matos
Fábio Ribeiro da Silva
Felipe Venturini Pereira, Venturini
Fernando Cataldo Cortes, Cabo Cortes
Fernando Pinto de Souza, SGT Fernando
Fernando Vieira Barcelos, SGT Barcellos
Fredson do Nascimento Pereira
Hugo Scarpa de Lucena, Scarpa
Jonhye Soares Labre Vieira
José Fernando Gonçalves de Faria Júnior, SGT Gonçalves
José Edilson Sousa
José Ricardo de Melo Alves, SGT José
José Ronaldo de Sá Júnior, SGT Sá
Josinaldo Vieira do Nascimento, SGT Nascimento
Júlio César de Mattos Harduim, Harduim
Kalter da Silva Paixão, SD Paixão
Leandro Costa Caldas, Cabo Caldas
Leandro Firmino Silva da Cruz, CB Firmino
Leandro Mezavila Melo, Cabo Mezavila
Leonardo Belgui Moura, SD Belgui
Luiz Cláudio Martins Costa, Luiz Fofoca
Marcelo Bento Vidile, Vidile
Marcelo Gomes Santiago, SGT Santiago ou Sucuri
Marcelo Ribeiro Gouveia, SGT Gouveia
Márcio Alexandre Xerém, Xerém
Márcio Porto Lagoas, SGT Lagoas
Marcos Antonio das Chagas Capulot, SD Capulot
Marcos Marcelo Vieira da Silva, SGT Marcelo
Maycon da Silva Ferreira, SGT Maycon
Maycon Riller Heringer de Andrade, Riller
Mychael Fonseca da Silva, SG Fonseca
Nery Oliveira da Fonseca, Oliveira
Pablo Martins Peçanha, Pablo
Paulo Henrique Tenente de Freitas
Paulo Roberto Campos, Sub Campos
Paulo Roberto Miguel Marinho, Hulk
Rafael dos Santos Vieira, SD dos Santos
Rafael Gomes Bezerra de Queiroz, Cabo Rafael
Rafael Rodrigo Garcia Cruz, SGT Rodrigo, vulgo Tubarão
Rafael Silva de Moraes, SGT Rafael
Ramon da Costa Moraes, SD Ramon
Ricardo do Bonfim de Souza, SGT Bonfim
Rodrigo Luiz Pacheco de Paula, Cabo de Paula
Rogério Fernandes Rodrigues, SD Fernandes
Roni Siqueira Braga
Rui Carlos Granja da Silva, SD Rui
Sandro Coutinho Oliveira, SGT Coutinho
Sergio dos Santos Arruda, SGT Arruda
Sérgio Menezes de Carvalho, SGT Menezes
Telmo de Souza Barbosa Júnior, SD Souza Júnior
Thiago Marcos Barboza, SD Marcos
Vinícius Alves Lima, SGT Alves
Vitor Mury Ferreira, SD Mury
Wainer Teixeira Júnior, SGT Wainer
Warnder Costa de Souza, SGT Wander
Wanderson Domingues Januário, SGT Januário

Wesley Cavalcante de Melo, CB Wesley

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

PMs de São Paulo são presos suspeitos de roubar caixas eletrônicos

Três homens, sendo dois policiais militares, foram presos sob suspeita de envolvimento com uma quadrilha que explodia e roubava caixas eletrônicos, em São Paulo, na noite da última segunda-feira. A investigação, que envolveu a Corregedoria da Polícia Militar e o Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais), começou em abril. Segundo o Deic, os policiais presos monitoravam a comunicação do rádio da PM durante as ações da quadrilha e avisavam os comparsas para que fugissem antes da chegada da polícia. A quadrilha também roubava casas.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Levantamento do GLOBO mostra que soldados e sargentos da PM têm carrões de até R$ 102 mil

RIO — Se fosse usada como parâmetro para avaliar a remuneração na Polícia Militar, a frota particular estacionada em pátios ou nos arredores de batalhões colocaria em xeque a retórica dos baixos salários. Isso porque não faltam veículos caros — alguns de luxo, com valor de mercado em torno de R$ 100 mil — em nome de sargentos e até mesmo de soldados. O GLOBO visitou, ao longo de uma semana, unidades da PM no Centro e em bairros das zonas Sul, Norte e Oeste, e checou a propriedade de vários carros. O levantamento foi passado à Secretaria estadual de Segurança, que, este ano, abriu sindicâncias para apurar o patrimônio de cerca de cem policiais.
Com salários de R$ 2,3 mil e R$ 4 mil, respectivamente, soldados e sargentos podem ser vistos dirigindo modelos que custam até 43 vezes o valor de seus vencimentos, como os utilitários Hyundai Santa Fé e Honda CR-V EXL e as caminhonetes Amarok CD High e Nissan Frontier, com tração 4x4. Veículos assim costumam parar em frente aos batalhões de Botafogo, Bangu e, principalmente, Rocha Miranda.
UMA MÁQUINA QUE VALE MAIS R$ 100 MIL
É no 9º BPM (Rocha Miranda) que está lotado um sargento proprietário de um Hyundai Azera 3.0 V6 ano 2013. O carrão, de acordo com a tabela da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) custa pelo menos R$ 102 mil. Na madrugada do último dia 20, um outro sargento do mesmo batalhão invadiu, de arma em punho, um depósito da Secretaria municipal de Ordem Pública para recuperar sua picape Toyota Hilux ano 2006, que havia sido rebocada. O veículo está avaliado em aproximadamente R$ 62 mil.



Hyundai Azera
O endereço que consta no registro de propriedade do Hyundai Azera fica na Rua Tacaratu, quase em frente ao 9º BPM. A casa informada no documento, contudo, não serve de moradia. O imóvel tem finalidade comercial — nele, é possível comprar cestas básicas ou alugar mesas e cadeiras para festas. Em um telefonema para a casa, um homem que atendeu a ligação questionou se o sargento estava sendo investigado pela equipe de reportagem e desligou em seguida.

SEM PREOCUPAÇÃO COM MULTAS
Muitas vezes, faltam vagas na Rua Tacaratu para tantos carros de PMs. Por isso, é fácil encontrar automóveis parados em fila dupla, como aconteceu no último dia 25. Sem se preocupar com multas, um sargento do 9º BPM ocupou parte da pista para estacionar sua picape cabine dupla Mitsubishi L 200 Triton 3.2 ano 2010, avaliada em R$ 80 mil. Com um detalhe: uma carreta para transporte de motocicletas estava acoplada ao veículo.
Como tem sido difícil estacionar em frente ao 9º BPM, alguns policiais param seus carros a aproximadamente 50 metros da entrada do batalhão, na esquina da Rua Tacaratu com a Estrada do Sapê. Ali, também no último dia 25, um soldado conseguiu parar sua SUV Hyundai Santa Fé V6, ano 2008 e com preço médio de R$ 52 mil, sob a sombra de uma amendoeira. Um colega da mesma patente não teve tanta sorte: seu Kia Cerato 2011, estimado em R$ 41 mil, ficou ao sol.



Soldado e sua SUV
Já um soldado do 16º BPM (Bangu) não precisa procurar vaga na rua: ele costuma parar sua Renault Duster 16 D, fabricada este ano e com valor de mercado entre R$ 49 mil e R$ 62 mil (segundo a Fipe), no estacionamento interno do batalhão. Em setembro, a unidade foi um dos alvos da Operação Amigos S.A., que, deflagrada pela Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública e pelo Ministério Público estadual, levou à prisão 26 policiais, incluindo seis oficiais.




No 16º BPM, o gosto por carrões não parece ser algo limitado a praças e sargentos. Investigações revelaram que, poucas semanas antes da realização da Amigos S.A., um major trocou um Citröen Pallas avaliado em R$ 65 mil por uma picape Dodge Journey que custou R$ 120 mil. Hoje, três meses depois da operação, veículos caros voltaram a ocupar as vagas que ficam no interior e em frente ao batalhão. Na lista de possantes, a marca Toyota figura entre as favoritas e foi a escolhida por um sargento, que dirige pelo pátio um modelo Corolla 2013 de quase R$ 70 mil.

AUTOMÓVEIS EM NOME DE TERCEIROS
Dimensionar a frota de luxo dos PMs não é tarefa fácil. Os muros altos de vários batalhões dificultam a visão dos veículos parados nas áreas internas. Porém, muitos não se preocupam em esconder seu patrimônio. É o caso de um soldado do 16º BPM (Olaria), que tem vaga cativa na Rua Jorge Martins para sua SUV Honda CR-V 2008, cujo preço médio é R$ 54 mil.
Outro obstáculo para investigadores é a grande quantidade de veículos registrados em nome de parentes, principalmente mulheres dos policiais. Um sargento do Batalhão de Choque, por exemplo, é casado com a proprietária de uma caminhonete Amarok CD 4x4 High ano 2012, avaliada em R$ 102 mil. Por sua vez, um policial do 2º BPM (Botafogo) tem o hábito de dirigir a SUV Dodge Jouney SXT 2009 da companheira. O carro está cotado em R$ 56 mil.
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, desde o início do ano, a Corregedoria-Geral Unificada (CGU) apura cerca de cem casos de suposta incompatibilidade entre salários e bens acumulados por PMs. O órgão informa que os sinais de riqueza mais comuns são justamente veículos, seguidos de imóveis. Ainda segundo a secretaria, o sargento do 16º BPM que dirige um Toyota Corolla já está sendo investigado pela CGU.
A Polícia Militar destaca que, em cada batalhão, há uma comissão — composta pelo subcomandante, por outros três oficiais e por integrantes do setor de inteligência — encarregada de investigar supostos casos de enriquecimento ilícito na tropa. “Essa análise é checada com os bens declarados no Imposto de Renda. Caso ocorra alguma irregularidade, os comandantes enviam a investigação para a Corregedoria da PM, que remete os documentos à CGU, para que a sindicância patrimonial seja instaurada’’, diz uma nota da corporação.
A PM informa também que o salário-base de um soldado é R$ 2.326,54 e de um cabo, R$ 2.679,74. Os vencimentos de um sargento variam de R$ 3.132,58 a R$ 4.070,85. A corporação ressalta que a renda pode aumentar de acordo com triênios, gratificações, cursos e outros benefícios. O GLOBO fez pedidos aos batalhões da Polícia Militar citados nesta reportagem para ouvir os proprietários dos veículos, mas não obteve respostas do comando dessas unidades.

Fonte http://oglobo.globo.com/

sábado, 18 de outubro de 2014

Desmantelado 'balcão de negócios' de PMs na Ilha do Governador - RJ

Operação Ave de Rapina prendeu dezesseis policiais militares acusados de sequestrar traficantes, roubar ouro e vender fuzis que deveriam ser apreendidos

Leslie Leitão, do Rio de Janeiro
Fachada da casa do acusado, tenente-coronel Dayzer Corpas Maciel
Fachada da casa do acusado, tenente-coronel Dayzer Corpas Maciel (O Dia)
A subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança (Ssinte) começou a desmantelar na manhã desta quinta-feira um dos maiores e mais longevos esquemas de propinas do Rio de Janeiro envolvendo policiais e traficantes. Na última década, a Ilha do Governador transformou-se num oásis de corrupção, em que dois criminosos passaram a comandar não apenas as favelas onde ficam entrincheirados sob a proteção de centenas de fuzis mas praticamente todo o comércio do bairro de classe média da Zona Norte da cidade onde está instalado o Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão). Às 6 horas, a Operação Ave de Rapina prendeu dezesseis policiais militares do 17º BPM (Ilha), responsável pelo patrulhamento da região, entre eles o tenente-coronel Dayzer Corpas Maciel, que até anteontem comandava a unidade, mas que foi promovido no início da semana e transferido para o Comando de Policiamento Especializado (CPE), que coordena várias unidades da PM. Além das propinas, o grupo é acusado de sequestrar traficantes, roubar ouro e vender fuzis que deveriam ser apreendidos. Na denúncia, o Ministério Público trata o batalhão como um ‘balcão de negócios’ e afirma que, durante as investigações, ‘restaram demonstrados indícios de que inclusive integrantes do Estado Maior da PM, infelizmente, possui fortes vínculos com o tráfico da Ilha’.
Numa única ação, em 16 de março passado, o grupo extorquiu dois criminosos da Favela da Coreia (em Senador Camará, Zona Oeste). Eles estavam em uma reunião no Morro do Dendê, na Ilha, e foram abordados quando passavam pela Estrada do Galeão. As imagens de uma unidade da Aeronáutica filmou a ação. Cinco bandidos estavam dentro da Ecosport vermelha, que foi abordada pelos policiais. Após duas horas de negociação, apenas três deles foram levados para a delegacia e acabaram presos com 18 granadas, três pistolas e um fuzil. Os bandidos - Atileno Marques da Silva, o Palermo, e Rogério Vale Mendonça, o Belo - acabaram liberados: "Os PMs receberam 300 000 em espécie, desviaram três fuzis, que depois foram vendidos por 50 000 cada para o próprio Dendê, e joias. De tudo isso, 40 000 foram para o comandante do batalhão", afirmou o delegado Fábio Galvão, subsecretário de Inteligência. 
Naquela mesma noite, um dos policiais, o sargento Francisco Zilvano Fonteles, telefonou às 19h51 para a advogada da quadrilha, Rosângela Azevedo Gomes. Ela estava em Campo Grande, a quase 40 quilômetros de distância. A partir daí foram vários os contatos telefônicos, o último às 2h13, quando as antenas dos telefones celulares registravam a mesma antena, na Ilha do Governador, indicando um encontro pessoal. O pagamento foi feito com ajuda de bandidos da Coreia e do próprio Dendê. Os traficantes ficaram devendo uma parcela que foi paga meses mais tarde, mas a investigação, que teve apoio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), não conseguiu detectar quanto.
O caso foi revelado pelo site de VEJA, em abril. Na época, o coronel Corpas chegou a prender 14 PMs administrativamente. Um inquérito policial militar (IPM) foi instaurado, mas as investigações internas se encaminhavam para um desfecho brando, no qual somente soldados e cabos seriam punidos, livrando o comandante e o chefe do Serviço Reservado, tenente Vitor Mendes da Encarnação. “Recebemos uma denúncia de que estava havendo uma enorme pressão para que a investigação interna não desse em nada. E é por isso que tiramos a investigação de dentro do batalhão. É preciso investigar além das ruas, chegar nos níveis mais altos da corrupção”, afirmou Paulo Roberto Mello Cunha Júnior, da 2ª Promotoria de Justiça junto à Auditoria da Justiça Militar.
Os investigadores, mais uma vez, contaram com um depoimento de um policial para desmantelar o grupo. Os promotores e o delegado da Ssinte classificaram o homem como ‘colaborador premiado’. O sargento chegou a aparecer nas imagens durante a abordagem do carro com os traficantes, mas não concordou com a liberação de dois criminosos. Em seguida, ele acabou transferido para outro batalhão. Ouvido como testemunha dentro do inquérito, ele decidiu colaborar. E através do seu depoimento foi possível esclarecer cada passo da extorsão do dia 16 de março e como funciona o esquema de ‘mensalão’ do tráfico da Ilha.
As prisões de parte do batalhão responsável pela região acontecem dez meses depois de a edição de VEJA revelar um grande esquema de corrupção que custa cerca de 500 000 reais mensais aos chefes do tráfico local, Fernando Gomes de Freitas, o Fernandinho Guarabu, e Gilberto Coelho de Oliveira, o Gil. A dupla coleciona mais de uma dezena de mandados de prisão, mas a fortuna gasta com agentes corruptos lhes mantém em liberdade desde 2003. Na denúncia, os promotores Claudio Calo, Cláucio Cardoso da Conceição e Paulo Roberto Mello Cunha Júnior descrevem essa relação promíscua: “É notório e público que o 17ºBPM não demonstra eficiência e interesse no combate ao tráfico e ao transporte alternativo”, e completam dizendo que Fernandinho Guarabu age como quer porque “(...) faz com que o bairro seja um fictício paraíso urbano para seus moradores, sem que haja a violência típica urbana, pois proíbe furtos, roubos e latrocínios, sob pena de seus autores serem condenados à morte”.
Durante o cumprimento de 43 mandados de busca e apreensão, mais cedo, os agentes encontraram, na casa do coronel Dayzer Corpas Maciel, documentos e notas fiscais que comprovam que a unidade militar comprava material de construção na loja de ferragens da esposa do comandante, que fica no mesmo bairro. O caso será enviado à Promotoria de Tutela Coletiva para que o militar seja investigado por improbidade administrativa. O caso escancara, mais uma vez, a corrupção em todas as esferas da Polícia Militar do Rio de Janeiro. Há um mês, o coronel Alexandre Fontenelle, número 3 na hierarquia da corporação, foi preso acusado de comandar um esquema de extorsão na Zona Oeste. Apesar disso, o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, disse que o comandante geral José Luís Castro não será exonerado. “Não vamos passar a mão na cabeça de ninguém, mas também não vamos tomar decisões antes do juízo”. A decisão pela mudança de comanda já foi tomada. Resta saber se a troca acontecerá antes ou depois do segundo turno da eleição.
Confira, abaixo, os vídeos da operação.
Os detidos Evanílson Ferreira Pinto e Rodrigo da Silva Alves são deitados no chão e os PMs conversam com os dois:
Após alguns minutos, os detidos Rogério Vale Mendonça e Atileno Marques da Silva são conduzidos em direção à viatura:
Rogério e Atileno são colocados no banco traseiro do veículo:



quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Investigação aponta desvios milionários na rede de saúde da PM RJ

Dez contratos estão sendo auditados. Corporação adquiriu, por mais de R$ 4 milhões, 75 mil litros de ácido

ADRIANA CRUZ
Rio - O desvio de verba em um megaesquema de corrupção na compra de material médico-hospitalar para unidades da Polícia Militar é avaliado em no mínimo R$ 10 milhões. A corporação instaurou um  inquérito Policial Militar (IPM). Em paralelo, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público, também apura o rombo na área da saúde. Dez contratos estão sendo auditados. 
Como o blog Justiça e Cidadania publicou nesta terça com exclusividade, a corporação adquiriu, por mais de R$ 4 milhões, 75 mil litros de ácido peracético — usado para esterilizar material cirúrgico que não ia para o autoclave. O produto seria para o Hospital Central da Polícia Militar (HPM), no Estácio. 
A unidade não tem nem lugar para armazenar a grande quantidade. Para isso, seria necessário a utilização de cinco carros pipas ou 15 mil galões de cinco litros. No entanto, parte ínfima do ácido foi recebido. Há ainda a informação de que a compra foi feita este ano. Gerências de Enfermagem de dois hospitais de grande porte, um da Zona Sul, e outro em Niterói, afirmam que o uso de ácido peracético é obsoleto. 
Hospital da PM no Estácio receberia os 75 mil litros de ácido peracético, comprado pelas unidades
Foto:  Estefan Radovicz / Agência O Dia
Em nota oficial, a PM fez questão de ressaltar que a investigação começou na corporação com uma sindicância e que por haver indícios de crime foi aberto um IPM, na segunda-feira. O Inquérito está a cargo do coronel Wolney Dias, subordinado à Corregedoria da Polícia Militar. Há uma comissão que acompanha o caso. Porém, a Subsecretaria de Inteligência em parceria com o Gaeco apuram o caso em procedimento separado. Os maiores alvos são oficiais que atuaram no setores de compra e licitação, ligados à diretoria de logística. 
Uma auditoria no Hospital da PM em Niterói apura rombo de mais de R$ 3 milhões na compra de medicamentos. A investigação aponta ainda para falsificação de assinaturas em documentos para efetuar compras. Serão convocados para prestar depoimento, por exemplo, ex-responsáveis pelo Fundo de Saúde da Polícia Militar (Fuspom). 
Em nota, a PM explicou que o Fuspom banca a compra de material médico-hospitalar, além de rouparia. Para isso, há desconto de 10% do soldo do militar e de mais 1% para cada dependente. A corporação informou que não recebe dinheiro do Sistema Único de Saúde e que a fiscalização é feita por comissão gestoras composta só de oficiais.
Unidades atendem a cerca de 250 mil 
Pelo menos 250 mil pessoas — entre PMs ativos e inativos e seus dependentes — são atendidos pela rede de saúde da corporação. São dois hospitais, um no Rio, outro, em Niterói, além de policlínicas e centros especializados, como o de fisiatria. Segundo a PM, a prestação de contas é feita ao Tribunal de Contas do Estado. 
A investigação do megaesquema de corrupção é mais um escândalo envolvendo oficiais. Semana passada, o ex-comandante do 17º BPM (Ilha) coronel Dayzer Corpas foi preso acusado de recebimento de propina de traficantes.

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Policial é preso acusado de desviar 81 armas da Polícia Militar do PR

Um policial militar foi preso acusado de desviar 81 armas da Policia Militar (PM) em Curitiba. Após uma investigação feita pela PM, a promotoria do Ministério Público do Paraná (MP-PR) ofereceu denúncia contra o policial. 

A promotoria suspeita que o soldado entregaria as armas para quadrilhas. Uma as armas foi apreendida em uma operação da PM no Sudoeste do Estado, em um assalto a caixas eletrônicos e a outra foi apreendida em um assalto à mão armada na Região Metropolitana de Curitiba.

O policial trabalhava no almoxarifado do comando regional da PM, em Curitiba, e foi preso preventivamente no dia 29 de agosto e encaminhado para o Batalhão de Polícia da Guarda, em Piraquara.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

MP começa a investigar comandante geral da Polícia Militar do Rio

RIO - Um dia depois do Corregedor-Geral das Polícias do Rio se negar a abrir sindicância para investigar a evolução patrimonial do comandante geral da Polícia Militar, coronel José Luis Castro Menezes, o Ministério Público (MP-RJ) anunciou que instaurou por conta própria investigação criminal militar sobre o PM e outros dois coronéis da cúpula da corporação. Em depoimento ao MP-RJ na semana passada, um dos 24 policiais presos na "Operação Amigos S.A." afirmou ter ouvido de oficiais presos na ação que todos os batalhões do Rio eram obrigados a pagar R$ 15 mil ao Estado-Maior da PM.
Segundo o MP-RJ, além do comandante estão sendo investigados o chefe do Estado-Maior Operacional, coronel Paulo Henrique Azevedo de Moraes, e o chefe do Estado-Maior Administrativo, coronel Ricardo Coutinho Pacheco. São os três cargos mais importantes na hierarquia da PM. 
O MP-RJ informou que também será analisado o envolvimento de outros PMs que tenham relação com o caso. A "Amigos S.A." desarticulou uma quadrilha que cobrava propina de comerciantes em Bangu, na Zona Oeste do Rio. Dos 24 PMs, seis eram oficiais, entre eles o comandante do Comando de Operações Especiais (COE), coronel Alexandre Fontenelle.
O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP-RJ, que foi parceiro da secretaria estadual de Segurança do Rio (Seseg) na operação, vai auxiliar na investigação dos três principais homens da PM. Ainda de acordo com o MP-RJ, a 2ª Promotoria de Justiça junto à Auditoria de Justiça Militar decretou o sigilo dos autos e requisitará o inquérito policial militar que a Corregedoria informou ter instaurado.
Negativa. Nesta quarta-feira, o Corregedor-Geral das Polícias, desembargador Giuseppe Vitagliano, se negou a cumprir pedido do Ministério Público do Rio (MP-RJ) para que fosse aberta sindicância para investigar a evolução patrimonial do comandante. O corregedor afirmou que "não há, até o momento, elementos que fundamentem a instauração de Procedimento Administrativo Disciplinar e de Sindicância Patrimonial contra o Comando e o Estado Maior da PM".
Em nota, o corregedor das polícias afirmou que "o procedimento encaminhado à Controladoria Geral Unificada foi baseado em cópias de reportagens jornalísticas". Segundo a secretaria estadual de Segurança, o corregedor enviou ofício ao Juízo da Vara Criminal de Bangu solicitando cópia do depoimento do PM e também da denúncia, "para fazer uma avaliação mais completa".